O livro Corpos Mutantes traz várias reflexões sobre a valorização do corpo humano na atualidade. Esta obra traz dez ensaios, produzidos por pesquisadores brasileiros que discutem diversas técnicas de "melhoramento" do corpo humano buscando atingir o modelos sociais, antrolopogicos e históricos de beleza, saúde e juventude e que avançam e evoluem com o progresso da ciência e das tecnologias.
Trago abaixo um resumo sobre quatro ensaios desta obra. Sem dúvida alguma a leitura desta obra ajuda-nos a compreender o impacto dos avanços tecnológicos na formação da sociedade contemporânea, tecnologica e consequentemente pós-humana em que vivemos atualmente.
Neste ensaio, Lima retrata que os progressos nos estudos científico-tecnológicos, e quanto o conseqüente desenvolvimento acelerado da tecnologia têm possibilitado melhorias e transformações diversas no corpo humano. Segundo o autor, o ser humano e o seu corpo vem à algum tempo deixando de ser um organismo simples e naturalmente humano. Isto ocorre devido a aliança entre a várias áreas científicas pós-modernas como a biônica, a nanotecnologia, a genômica e a biotecnologia dentre outras; e juntamente as mais diversas e modernas tecnologias, tem proporcionado muitas melhorias na saúde, nas habilidades, nas capacidades e principalmente na estética do homem.
Lima também nos remete também a fusão entre o humano e a máquina (não-humano), onde pela primeira vez é abordado o termo ciborgue que configura nesse contexto o pós-humano, a evolução do ser humano enquanto mistura de ser-vivo e máquina (não-vivo). Essa mistura de homem e máquina há algum tempo atrás (na década de 80), segundo o autor fazia apenas parte de ficção científica e do imaginário das pessoas. Porém nos dias atuais, na sociedade contemporânea e tecnológica em que vivemos isso já é um fato cabível e natural. Segundo Gray, “Vivemos em uma sociedade ciborgue” . Essa frase é exemplificada e compreendida de forma mais clara quando usamos qualquer tecnologia para potencializar o nosso corpo, como as lentes corretoras nos olhos para melhorar a visão (que é imperceptível num primeiro instante), até uma prótese mecânica no lugar de uma perna (muito visível e repugnante para muitos de nós) ou um marcapasso injetado do nosso corpo (onde não vemos mais sabemos que está lá), todas essas tecnologias aliadas as ciências nos mostram como o humano e a máquina estão funcionando e se relacionando numa simbiose perfeita.
Buscando esclarecer o conceito de ciborgue Lima cita a autora Donna Haraway que define ciborgue como um organismo cibernético, um híbrido de máquina e organismo, uma criatura de realidade social e também uma criatura de ficção. Para Haraway existiram três abalos de fronteiras que fizeram surgir o ciborgue em meio à cultura contemporânea. O primeiro abalo foi na fronteira entre o homem e o animal, a segunda fronteira foi entre o organismo e a máquina e a terceira fronteira foi a fronteira do físico e não-físico caracterizada pela miniaturização das tecnologias (chips).
Neste contexto atual contemporâneo em que vivemos de avanços técnico-científicos os ciborgues se estabelecem e hoje, para nós, não fica claro onde termina o humano? E onde começa máquina ?
CORPOS AMPUTADOS E PROTETIZADOS: "NATURALIZANDO" NOVAS FORMAS DE HABITAR O CORPO NA CONTEMPORANEIDADE
Ao longo da nossa existência terrena, o corpo humano passa por transformações inerentes ao processo de progresso, evolução, desgaste e envelhecimento, mas também pode ser transformado por escolhas em busca de aperfeiçoar sua aparência fazendo uso das diversas intervenções cirúrgicas e estéticas. No entanto, em situações adversas e inesperadas o corpo pode sofrer transformações motivadas por doenças ou acidentes.
A autora desse ensaio, Luciana Paiva descreve o caso de uma pesquisa de nove pacientes adultos de uma clinica de reabilitação analisando os impactos do o uso de próteses desde a fase inicial da incorporação da prótese passando pelo processo de adaptação e como cada um deles vivenciaram a interação entre corpo e máquina e como estas próteses possibilitaram um novo estilo de vida em uma nova configuração graças a tecnologia que permite ao individuo reescrever a sua história.
Em algumas de suas entrevistas, os pacientes revelaram que falar sobre seus corpos amputados era uma tarefa difícil, principalmente porque se tratava das suas imperfeições, era mais fácil falar do passado, de quando seus corpos ainda eram “perfeitos”, ou ditos “normais”. Vivemos em uma sociedade que privilegia a perfeição, a eficiência e o dinamismo. Perder uma perna, ou um braço significa também perder a normalidade e passar a ser visto como deficiente ou ineficiente.
O corpo é uma referência para construção da nossa identidade. A amputação de alguma parte, ocasiona a "morte parcial" do indivíduo, de um estilo de vida e de sua identidade. Após a amputação, tanto o individuo como o seu corpo tornam-se ao mesmo tempo desconcertantes e desconhecidos. “Quem sou eu agora?”. Dentro desta perspectiva, o espelho pode ser pensado metaforicamente como a imagem do indivíduo que se reflete tanto no vidro espelhado, quanto no olhar do outro. Ambos passam a ser os mais cruéis julgadores de sua aparência incomum.
E AS TECNOLOGIAS, O QUE FAZEM POR ESSES CORPOS AMPUTADOS?
As máquinas estão cada vez mais presentes na vida das pessoas, acoplando-se aos seus corpos com próteses de toda a natureza. Dessa forma “o corpo tornou-se lugar privilegiado das técnicas e o destino certo das máquinas” (Couto, 2001 p.87)
As tecnologias invadiram o corpo humano porque o mesmo adequou-se a elas Atualmente é impossível falar de corpo e estetica sem mencionar as tecnologias. Estas intensificaram e habilitaram o território biológico. Os conhecimentos produzidos pela ciência sobre o corpo humano e as evoluções biotecnológicas prepuseram algo ao corpo; extirpar os seus excessos, preservar a sua saúde, embelezá-lo e principalmente aumentar o seu desempenho. Assim, as máquinas estão cada vez mais presentes na vida das pessoas, acoplando-se aos seus corpos com próteses de toda a natureza.
Com isso, as máquinas passam a ser artefatos protéticos, componentes íntimos e amigáveis de nós mesmos. As tecnologias aperfeçoaram as próteses e estas passam a ocupar um lugar importante na vida dos indivíduos, que por ventura perdemos parte de nosso corpo deixando de ser um objeto estranho, para assumirem a função de acessórios fundamentais e intrínsecos de em nossas vidas.
Pode-se concluir que “o hibridismo entre o corpo e a máquina não significa o fim do corpo naturalmente humano, mas paradoxalmente, uma das formas excelentes de sua afirmação contemporânea. Portanto, há muito tempo o indivíduo deixou de ser visto como algo natural para se tornar algo naturalmente artificial, ou seja, ciborgue” (Couto , 2000; Haraway,2000)
Velhice, palavra quase proibida; terceira idade, expressão quase hegemônica.
Annamaria da Rocha Jatobá Palácios
Neste capitulo é enfatizado o embate contemporâneo entre duas expressões: velhice e a terceira idade. Tendo como matéria-prima o discurso sobre a evidencia e a importancia social que as propagandas de cosméticos tem atualmente.
Há algumas décadas que se tem observado um aumento da expectativa de vida das pessoas em todas as sociedades vigentes no mundo, a autora evidencia isso através de dados estatísticos, e como essas pessoas passaram a consumir produtos e a ter um outro ritmo de vida em relação aos “velhos” do passado. Segundo o texto, fica claro e perceptível a importância da publicidade perante as análises sociais. A publicidade é vista como um espaço de evidência cultural e por isso deve ser vista com olhares mais criteriosos em relação ao seu discurso.
Sendo assim , segundo Palácios, a mudança discursiva das propagandas acompanham as mudanças sociais e assim como a publicidade procura desvendar as novas tendências e explorá-las ela contribui para a propagação dessas idéias. No caso o termo terceira idade significa uma nova pessoa madura que envolve uma série de significados atuais em relação ao termo velho que se identifica com o ultrapassado.